sexta-feira, 26 de agosto de 2011
TESE DE MESTRADO NA USP por um PSICÓLOGO
> TESE DE MESTRADO NA USP por um PSICÓLOGO
>
> 'O HOMEM TORNA-SE TUDO OU NADA,
> CONFORME A EDUCAÇÃO QUE RECEBE'
>
>
> 'Fingi ser gari por 1 mês e vivi como
> um ser invisível'
>
>
> Psicólogo varreu as ruas da USP para
> concluir sua tese de mestrado da
> 'invisibilidade pública'. Ele
> comprovou que, em geral, as pessoas
> enxergam apenas a função social do
> outro. Quem não está bem posicionado
> sob esse critério, vira mera sombra
> social.
>
> Plínio Delphino, Diário de São Paulo.
>
> O psicólogo social Fernando Braga da
> Costa vestiu uniforme e trabalhou
> um mês como gari, varrendo ruas da
> Universidade de São Paulo.
>
> Ali,constatou que, ao olhar da
> maioria, os trabalhadores braçais são 'seres
> invisíveis, sem nome'.
>
> Em sua tese de mestrado, pela USP,
> conseguiu comprovar a existência da 'invisibilidade pública', ou seja,
> uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão
> social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa.
> Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário
> de R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição
> de sua vida:
>
> 'Descobri que um simples bom dia, que
> nunca recebi como gari, pode
> significar um sopro de vida, um sinal
> da própria existência', explica o
> pesquisador.
>
> O psicólogo sentiu na pele o que é ser
> tratado como um objeto e não como um ser humano.
>
> 'Professores que me abraçavam nos
> corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do
> uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir
> desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um
> poste, ou em um orelhão', diz.
> No primeiro dia de trabalho paramos
> pro café. Eles colocaram uma garrafa térmica sobre uma plataforma de
> concreto. Só que não tinha caneca. Havia um clima estranho no ar, eu
> era um sujeito vindo de outra classe, varrendo rua com eles. Os garis
> mal conversavam comigo, algunsse aproximavam para ensinar o serviço.
>
> Um deles foi até o latão de lixo pegou
> duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade e serviu
> o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava num
> grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro.
>
> Eu nunca apreciei o sabor do café.
> Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e claro, não livre de
> sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas de refrigerante de
> dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem barata, tem
> de tudo. No momento em que empunhei a caneca improvisada, parece que
> todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse:
> 'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a
> beber nessa caneca?' E eu bebi.
> Imediatamente a ansiedade parece que
> evaporou. Eles passaram a conversar comigo, a contar piada, brincar.
>
> O que você sentiu na pele, trabalhando
> como gari?
> Uma vez, um dos garis me convidou pra
> almoçar no bandejão central.
>
> Aí eu entrei no Instituto de
> Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo
> andar térreo, subi escada, passei pelo
> segundo andar, passei na biblioteca, desci a escada, passei em frente
> ao centro acadêmico, passei em frente a lanchonete, tinha muita gente
> conhecida. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu.
>
> Eu tive uma sensação muito ruim. O meu
> corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da
> cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui
> almoçar, não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.
> E depois de um mês trabalhando como
> gari? Isso mudou?
> Fui me habituando a isso, assim como
> eles vão se habituando também a situações pouco saudáveis. Então,
> quando eu via um professor se aproximando - professor meu - até parava
> de varrer, porque ele ia passar por mim, podia trocar uma idéia, mas o
> pessoal passava como se tivesse passando por um poste, uma árvore, um
> orelhão.
> E quando você volta para casa, para
> seu mundo real?
> Eu choro. É muito triste, porque, a
> partir do instante em que você está
> inserido nessa condição psicossocial,
> não se esquece jamais.
>
> Acredito que essa experiência me
> deixou curado da minha doença burguesa.
>
> Esses homens hoje são meus amigos.
> Conheço a família deles, freqüento a casa deles nas periferias. Mudei.
> Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador.
>
> Faço questão de o trabalhador saber
> que eu sei que ele existe.
>
> Eles são tratados pior do que um
> animal doméstico, que sempre é chamado pelo
> nome. São tratados como se fossem uma
> 'COISA'.
>
> *Ser IGNORADO é uma das piores
> sensações que existem na vida!
>
> Respeito: passe adiante!
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Jornalista, escritora e colunista do Jornal O Globo
Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. A imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe, filha e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado, decido o cardápio das refeições, cuido dos filhos, telefono sempre para minha mãe, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos e ainda faço as unhas e depilação!
E, entre uma coisa e outra, leio livros.
Portanto, sou ocupada, mas não uma workholic.
Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.
Primeiro: a dizer NÃO.
Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO.
Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero.
Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.
Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros...
Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.
Você não é Nossa Senhora.
Você é, humildemente, uma mulher.
E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.
Tempo para fazer nada.
Tempo para fazer tudo.
Tempo para dançar sozinha na sala.
Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.
Tempo para sumir dois dias com seu amor.
Três dias..
Cinco dias!
Tempo para uma massagem...
Tempo para ver a novela.
Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.
Tempo para fazer um trabalho voluntário.
Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.
Tempo para conhecer outras pessoas.
Voltar a estudar.
Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.
Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.
Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.
Existir, a que será que se destina?
Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.
A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.
Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.
Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!
Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.
Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.
Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.
Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores.
E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante'
Martha Medeiros - Jornalista e escritora
E, entre uma coisa e outra, leio livros.
Portanto, sou ocupada, mas não uma workholic.
Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.
Primeiro: a dizer NÃO.
Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO.
Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero.
Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.
Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros...
Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.
Você não é Nossa Senhora.
Você é, humildemente, uma mulher.
E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.
Tempo para fazer nada.
Tempo para fazer tudo.
Tempo para dançar sozinha na sala.
Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.
Tempo para sumir dois dias com seu amor.
Três dias..
Cinco dias!
Tempo para uma massagem...
Tempo para ver a novela.
Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.
Tempo para fazer um trabalho voluntário.
Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.
Tempo para conhecer outras pessoas.
Voltar a estudar.
Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.
Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.
Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.
Existir, a que será que se destina?
Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.
A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.
Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.
Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!
Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.
Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.
Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.
Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores.
E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante'
Martha Medeiros - Jornalista e escritora
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